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Caravana leva esporte e dança a localidades remotas do Brasil

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) reconhece o esporte e o lazer como direitos fundamentais da pessoa humana e da coletividade. E há quem leve o assunto bastante à sério.

É o caso da Caravana do Esporte e a Caravana das Artes, um programa que percorre comunidades do interior do Brasil com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) para proporcionar experiências de aprendizagem por meio de práticas esportivas e artísticas.

Ação da Caravana do Esporte e da Caravana das Artes em Lábrea (701km de Manaus), sul do Amazonas
Ação da Caravana do Esporte e da Caravana das Artes em Lábrea (701km de Manaus), sul do Amazonas

Em cada localidade são realizadas atividades esportivas, musicais e artísticas para cerca de 3 a 5 mil crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos com o objetivo de que desenvolvam habilidades psicomotoras, cognitivas e sociais de integração comunitária.

Em onze anos já foram atendidas mais de 2,6 milhões de crianças e adolescentes e capacitados mais de 30 mil professores da rede pública de ensino em municípios de 23 Estados brasileiros.

O programa tem uma metodologia própria que considera o esporte um direito de todos, sem restrições de espaço, atuando de forma a desconstruir  a ideia da competição, que deixa muita gente de fora dos jogos esportivos.

Na prática isso se reflete em quadras de basquetes montadas com lonas e com diferentes alturas de cestas, redes de vólei mais baixas feitas com fios de garrafa pets, bolas mais leves e maiores, entre outras adaptações.

Caravana do Esporte e da Caravana das Artes em União dos Palmares (AL)
Caravana do Esporte e da Caravana das Artes em União dos Palmares (AL)

“A ideia é mostrar que o esporte não deve ser estimulado apenas para encontrar os melhores atletas, mas como meio de incentivo para vencer desafios conforme o perfil de cada aluno. Quando aquela ação é adequada para ele, o aluno consegue ter sucesso e assim se sente estimulado a jogar de novo. O mais importante é  aluno criar o hábito e incorporar na sua vida a atividade física”, explica Alexandre Arena, coordenador do Instituto Esporte e Educação, responsável pela parte esportiva da Caravana.

O projeto, que tem como uma das fundadores a medalhista olímpica Ana Moser, visita uma cidade por mês, onde permanece por uma semana. Os instrutores trabalham na prática com alunos das escolas públicas locais, que são recebidos durante três dias seguidos divididos por turmas de até 500 crianças. Paralelamente, acontece a capacitação dos professores e gestores, para que acrescentem mais atividades físicas de forma inclusiva no currículo escolar e também seminários onde se discute a  implantação de políticas públicas de incentivo.

Tenta montada na Faculdade Católica do Tocantins, em Palmas
Tenta montada na Faculdade Católica do Tocantins, em Palmas

No final de outubro foi a vez de Palmas, no Tocantins, receber a Caravana. A edição foi considerada especial por fazer parte da Agenda de Convergência  dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas que reuniu etnias do mundo todo em torno da temática do esporte e da cultura desses povos. Nessa ocasião, a Caravana contou com presença de professores indígenas como Nilton Jacobina, da etnia Terena, Arão, da etnia Paumari, e Ismael Morel, dos Guarani Kayowa, que integraram às atividades brincadeiras próprias de cada tribo.

“Essa experiência nos mostra que podemos desenvolver esporte em todos os espaços e que não existe o pior nem o melhor, todos somos iguais, todos podem ganhar. A única coisa que nos faz diferentes é a cultura”, diz Jacobina que é professor de educação física em Campo Grande, no Mato Grosso.

Na parte artística da Caravana, as crianças têm a oportunidade de receber aulas de música e linguagem corporal.

“Elas se soltam e assim como fizeram aqui vão querer fazer de novo, então pedirão aos seus professores. Assim nossa intenção é criar um movimento de mudança interna que possa ter uma mudança externa que culmine com uma mudança de postura sobre a educação nessa cidade”, diz Marina Augusta, uma das professoras de dança.

Para Renato Lopes de Albuquerque, 45, diretor da escola municipal que estava assistindo as atividades, todos os professores deveriam ter o dom de trabalhar com a experiência da música e do movimento.

“Sinto muita mágica nisso. Eu vejo crianças que na escola são extremamente retraídas e que se soltaram de forma extraordinária aqui, algo que nunca tinha visto nas aulas.”

Diogo Silva, campeão Pan-americano de Taekwondo participa de uma das atividades do grupo
Diogo Silva, campeão Pan-americano de Taekwondo participa de uma das atividades do grupo

Para Marilucia Abreu lima, 43, professora que atua na biblioteca de uma das escolas do município, foi muito importante perceber por meio da metodologia que a Caravana usa que ao estar aberto é possível construir o conhecimento junto com os alunos. “Eles absorvem aquela técnica e fazem junto com a gente”, conta.

Muitas das crianças que participam nunca foram ao cinema e por meio da parceria com a Disney o projeto proporciona aos pequenos entrarem em contato com o mundo mágico do Mogli, Pateta e outros personagens.

“Em média, 1.500 crianças e famílias das comunidades têm acesso juntos aos filmes que transmitem histórias e mensagens positivas em um mundo mágico de criatividade. Muitas vezes é o primeiro contato da comunidade com o cinema. Para quem tem a oportunidade de acompanhar pessoalmente, o momento é inesquecível”, diz Belén Urbaneja, diretora da Disney na América Latina.

Política

Na parte política, o projeto tem a missão de, em conjunto com líderes da comunidade, selar acordos e constituir comissões para influenciar o governo local para que sigam trabalhando com essas bases no futuro. Por isso é realizado o seminário e entregue um documento as autoridades no sentido de reivindicar um olhar mais sensível para a causa.

No seminário realizado em Palmas, onde os professores se manifestaram no sentido de reivindicarem um olhar mais sensível das autoridades para esse assunto,

foi discutido especialmente a questão do educação intercultural, já que o Tocantins tem muitos aldeias indígenas integrados a sociedade urbana.

Os líderes indígenas presentes aproveitaram também para demonstrar sua contrariedade a Proposta de Emenda Constitucional 215 que transfere do Poder Executivo para o Legislativo a competência para demarcar terras indígenas.

Para Ana Moser, estamos vivendo a década esportiva com a Copa e as Olimpíadas, que traz como legado para o brasileiro a discussão de forma mais intensa e madura sobre a importância do esporte.

“Projetos como esse por exemplo, é uma ótima estratégia para articular e mobilizar o setor publico. Queremos conseguir ampliar o acompanhamento e o apoio nas cidades já visitadas, e a visibilidade nos ajuda a encontrar parceiros para isso.”