Projeto em Fortaleza busca mudar vida de ex-detentos

A falta de oportunidades e o preconceito ainda são os principais entraves para ressocialização de ex-presidiários no Brasil.

Uma pesquisa realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em 2015, mostrou que a cada quatro ex-presidiários, um volta a cometer crimes no prazo de cinco anos. Essa taxa equivale a quase 25% do total de presos.

Em abril, um decreto determinou que empresas contratadas pelo governo federal para prestação de serviços ofereçam cotas para presidiários e ex-presidiários sempre que os contratos ultrapassarem R$ 330 mil. Segundo o governo, a medida visa a estimular a ressocialização de apenados.

Organizações oferecem curso de empreendedorismo para mais de 50 ex-detentos do sistema penitenciário

Com o objetivo de oferecer novas oportunidades, a ONG Visão Mundial, em parceria com a Enel e a Sejus (Secretaria de Justiça) de Fortaleza, oferece um curso de empreendedorismo para mais de 50 egressos do sistema prisional do município.

O curso de empreendedorismo para os egressos é um projeto de reinserção social e têm o objetivo de orientar as pessoas a gerenciar o próprio tempo, trabalhar com o que se gosta, driblar os altos índices de desemprego e, consequentemente, mudar a ideia de que os egressos são indivíduos vulneráveis diante da sociedade.

A primeira edição do curso aconteceu no início deste ano, em fevereiro, e capacitou mais de 20 ex-detentos. Para a segunda edição do projeto, que começa na próxima segunda-feira, 27, a Sejus realizou a inscrição de 51 egressos que serão capacitados durante uma semana.

“O intuito do projeto é mostrar ao egresso uma nova visão de reinserção, mostrar que eles são capazes de apresentar ideias inovadoras de empreendedorismo que respondem as atuais necessidades do mercado. Com isso, queremos impactar diretamente a vida deles na vida das suas famílias, proporcionando uma nova oportunidade de transformação”, diz Marcelo Menezes, coordenador de projetos da Visão Mundial.

Exemplo de transformação

Um exemplo de transformação através do curso é o Cícero Carpejian, que já participou do projeto e encontrou uma oportunidade para a reinserção social.

Cicero conta que nunca tinha imaginado trabalhar com vendas e ter bons resultados, mas resolveu apostar pela necessidade financeira. “Venci o medo de me comunicar e consegui aprender a me expressar melhor através da experiência com os clientes”, conta. Ele foi destaque de vendas em um curto período de tempo e esteve entre os melhores vendedores da cidade.

Para facilitar a adesão dos participantes, não é cobrado investimento inicial e o lucro é de 30% dos valores vendidos. A coordenadora de Inclusão Social do Preso e do Egresso, Cristiane Gadelha, conta que o empreendedorismo é incentivado por ser também uma forma de driblar o preconceito ainda presente no mercado:

“Convidamos os egressos que não estão incluídos no mercado de trabalho para serem qualificados. A ideia é que possamos disseminar essa ideia como uma forma de manutenção da vida e da família dessas pessoas”, diz.

Movimento Sou Responsável

Essa história faz parte da série para o movimento Sou Responsável, cuja meta é estimular o protagonismo dos brasileiros. Em pleno ano eleitoral, o Catraca Livre e o Instituto SEB de Educação decidiram apoiar essa campanha para ajudar o brasileiro a também ser parte das soluções, e não do problema.