Cracolândia recebe ação inédita de empresa de ‘place branding’
A Places for Us se autodenomina a primeira empresa brasileira especializada em “place branding” (marca-lugar). Seu objetivo é fortalecer localidades, identificando suas vocações, trabalhando identidades culturais e engajando moradores e investidores. E a região da cracolândia, em São Paulo, será uma de suas primeiras beneficiadas.
A startup foi fundada no Brasil há dois anos pelo arquiteto e urbanista Caio Esteves. A equipe, que conta também com a designer Betina Sulzbach e a jornalista Mariane Broc, está envolvida, agora, com o bairro de Campos Elíseos, onde se situa a maior cracolândia paulistana.
Quem contratou os trabalhos da Places for Us foi a Campos Elíseos + Gentil, associação mantida pelo Grupo Porto Seguro –cuja sede se situa na região.
A entidade desenvolveu um aplicativo que possibilita a moradores registrar ocorrências nos Campos Elíseos e pedidos de melhoria. Os alertas, como são chamados, são encaminhados para áreas específicas da prefeitura. As soluções são cobradas por meio do trabalho da associação.
Faltava, porém, uma forma de agregar a população da área em prol das melhorias almejadas por todos. Assim, um minucioso diagnóstico foi iniciado pela Places for Us em abril. “O bairro é, historicamente, abandonado”, explica Sulzbach. “Perdeu-se o senso de pertencimento. A ideia é levar as pessoas a ocupar de novo o espaço.”
A Places for Us também já realizou ações em locais como Limeira (SP), Caxambu (MG) e Alfenas (MG) e trabalha com as seguintes diretrizes ou “drivers”:
Integração
Para iniciar o engajamento comunitário nos Campos Elíseos, uma dinâmica foi feita com os moradores. No exercício, foi questionado o papel de cada um no bairro.
A startup detectou falta de aceitação entre vizinhos, já que a população local é bastante diversificada. “Existe preconceito com quem mora no cortiço. Não existe link entre as pessoas”, diz Mariane Broc. “Queremos derrubar esses muros entre culturas diferentes. A ideia é conviver.”
A equipe salienta que o principal intuito do trabalho é fazer com que os moradores “experimentem o bairro” e percebam que a sensação de insegurança, muito forte entre todos, pode ser reduzida por meio da ocupação e da qualificação do espaço público. “Quanto mais pessoas nas ruas, menor será a sensação de insegurança”, afirma Broc.
No momento, a empresa está em processo de mapeamento da área. Em seguida, as propostas para a cracolândia serão formatadas, sempre em torno do engajamento –para que todos possam propor soluções. “Há um caldeirão político acontecendo. Virou um caso de polícia, e não de saúde pública”, acredita Sulzbach. “O acesso ficou difícil.”
Um dos desafios será tirar a “marca negativa” que o local recebeu –já que muitos confundem “Campos Elíseos” e “cracolândia”, como se o fluxo de venda e uso de drogas não fosse uma situação indesejada, e sim um verdadeiro bairro.
Dar fim ao crack na região, porém, está fora dos objetivos, segundo Sulzbach. “A cracolândia não acabará enquanto houver desigualdade social.”
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