5 fotógrafos ‘desconhecidos’ que você deveria seguir no Instagram

Para além das milhões de selfies diárias, das fotos de pratos de comida em restaurantes e dos vídeos na praia, na piscina ou fazendo algo que pareça legal aos outros seguidores, o Instagram também pode ser uma exposição permanente e constante de imagens relevantes produzidas por fotógrafos paralelos espalhados pela multidão.

Seja com câmeras profissionais, tripés e equipamentos sofisticados ou apenas com o celular nas mãos, cresce na rede social uma rede de coletivos, grupos e ideias fotográficas que se alimentam e se influenciam. Alguns deles reúnem milhões de seguidores –até mais do que fotógrafos renomados–, enquanto outros são desconhecidos.

É o caso do funcionário público Carlos Silva, de São Paulo. Formado em publicidade e com especializações em arquitetura, Carlos decidiu começar a fotografar alguns cenários da cidade em 2014 por influência do fotógrafo holandês Dirk Bakker, que reúne fãs do mundo todo por suas fotos simétricas de prédios europeus. “Até já trocamos algumas imagens”, conta ele.

Seu perfil na rede (@carlpop1234) tem pouco mais de sete mil seguidores –pouco se comparado a algumas contas famosas, que chegam a ter mais de 50 mil, como a do estadunidense Adrian Caisaguano, que clica Nova York do terraço dos prédios mais altos da cidade.

“A fotografia se tornou um fenômeno de reprodução de massa no século 19. A revolução digital, como o caso do Instagram, só faz parte desse processo, é uma tendência histórica”, afirma Elinaldo Meira, professor universitário de fotografia e também profissional da área.

Alguns fotógrafos perdidos no Instagram cresceram por meio de coletivos fundados por usuários do aplicativo com interesses semelhantes. Em casos gerais, eles tendem a se tornar influências para diversos outros grupos no mundo todo, como a ideia do “everyday”, contas que tentam retratar o cotidiano de várias regiões do planeta. No caso do Brasil, a mais famosa é a @everydaybrasil, com 17 mil seguidores.

Uauá – Bahia. Photo by Paula Marina @paula_marina.

Uma publicação compartilhada por Everyday Brasil (@everydaybrasil) em

“Existem pessoas que se dedicam a caçar bons fotógrafos no Instagram e, quando os encontram, convidam para fazer parte dos seus grupos”, diz a fotógrafa paulistana Ana Lulan. “Isso é facilitado quando você posta uma foto com uma hashtag que diga algo sobre aquele coletivo”, completa.

Os coletivos de fotografia, alguns cujos membros nunca se reuniram, trabalham com assuntos específicos, que vão desde os vários tipos de movimentos urbanos até aqueles que se dedicam a um estilo fotográfico, como imagens perdidas de transeuntes –caso do japonês Chulsu Kim, que clica em Tóquio.

Um dos grupos mais famosos do Instagram em São Paulo é o Coletivo Rolê (@role_sp), que, como já diz o nome, reúne fotógrafos usuais para clicar imagens da noite de São Paulo. Há alguns anos, eles chegaram a promover uma exposição na cidade com as melhores fotos tiradas nos dez anos de existência. As imagens são clicadas com câmeras profissionais e celulares.

#saopaulo #sp #photojournalism #brasil #brazil #br #photography #nightphotography #night #lensculture

Uma publicação compartilhada por ROLÊ (@role_sp) em

“Éramos em treze, e sempre aparecia uma galera querendo fotografar ou gravar. Estas pessoas agora fazem parte do coletivo. Eles agregam novos olhares sobre a cidade. Em um mesmo quarteirão, dez pessoas fotografam dez coisas diferentes”, explica João Sal, um dos integrantes originais do grupo.

Dos cerca de 700 milhões de usuários do Instagram atualmente –uma das cinco maiores redes sociais do mundo–, o Quem Inova selecionou cinco contas de fotógrafos amadores e profissionais que, para além de toda a produção narcísica do aplicativo, se dedicam a compartilhar fotografias sobre suas realidades ou percepções do mundo –e que não são tão conhecidos por isso. 

[tab:Carlos Silva (@carlpop1234) – São Paulo, Brasil]

Prédio na região central de São Paulo

O funcionário público paulistano Carlos Silva diz que seu trabalho fotográfico é apenas um hobby, mas a maioria dos seus sete mil seguidores no Instagram provavelmente o considera um profissional da área. Publicitário com formação técnica em arquitetura, mas atuando em uma delegacia, ele decidiu sair com uma câmera pela cidade há apenas três anos.

“Tenho gosto pela fotografia desde a faculdade: o laboratório, a revelação em preto e branco, as linhas etc”, conta. “Estou em processo de aprendizagem. Não tenho nenhum curso de fotografia ou de edição, algo que uso muito no meu trabalho. Acima de tudo, tirar fotos é um grande hobby”, continua.

Em suas fotos, se pode ver a influência do holandês Dirk Bakker (@macenzo) não apenas pelas composições simétricas de prédios, janelas e outras construções urbanas, mas pelo cuidado em alinhar os cenários milimetricamente mesmo quando eles não são tão retos. Por incrível que possa parecer, Carlos assegura que não costuma usar tripés. “É tudo na edição”, conta.

O gosto cresceu tanto que hoje fotografar é a única coisa que Carlos faz no seu tempo livre: costuma sair três horas antes de entrar no trabalho, no centro de São Paulo, para caçar imagens pela cidade. “Tem dias que caminho 10 quilômetros”, revela. Sorte dos seus seguidores.

[tab:Jonatan Funes (@jfunes91) – San Salvador, El Salvador]

“Retratando a morte e a vida” é a frase escrita no perfil do fotógrafo salvadorenho Jonatan Funes e que, como quem tem dimensão de sua obra, define bem o trabalho que ele faz. Trabalhando para diversos veículos da imprensa do seu país desde 2013, suas fotografias podem ser até perturbadoras, não pelo conteúdo que elas oferecem –corpos, membros decapitados, cenas de crimes etc–, mas pela estranha beleza que elas podem adquirir dependendo de quem as vê.

San Salvador é uma das cidades mais violentas do mundo

Vivendo em um dos países mais violentos do mundo, Funes se dedica a clicar os resultados das ações de facções criminosas, das forças armadas salvadorenhas e do submundo cruel da capital, San Salvador, em imagens que vão desde gatos caminhando sobre poças de sangue até corpos de vítimas da brutalidade dos traficantes de drogas encontrados pela cidade.

“Em San Salvador, existe muita violência, e sempre trato de buscar uma estética e uma boa composição em cenários de sangue”, conta ao Quem Inova. Apesar da proximidade com a morte em suas fotos, ele diz que procura denunciar, com seu trabalho, a escalada de violência em San Salvador por conta da presença das gangues. “É preocupante a nossa situação e acho que ela precisa ser documentada de alguma forma”, explica. 

[tab:Daniel Montazem (@daniel_montazem) – Havana, Cuba]

Uma das ruas de Havana

Com o retorno do diálogo entre o governo cubano e os Estados Unidos, no final de 2014, o turismo na ilha caribenha teve um crescimento espantoso. Em 2015, por exemplo, mais de três milhões de pessoas visitaram o país – um recorde histórico para os registros (e os cofres) do regime. Com mais gente viajando a Cuba, aumentaram também as informações e, claro, as fotografias do cotidiano local. Esse parece ser o trabalho de Daniel Montazem.

Em seu perfil no Instagram, que tem catorze mil seguidores, há registros de bairros, ruas, casas, restaurantes e praças de Havana, capital cubana sempre cheia de turistas misturados aos habitantes da cidade. Montazem também tem um gosto especial pelos carros antigos que rodam pela capital cubana.

“Quando eu ando por Havana, fico pensando na beleza e na atmosfera do passado. Imagine andar pela cidade na década de 50. Devia ser lindo”, diz ele.

[tab:Márk Pozsonyi (@markpozsonyi) – Budapeste, Hungria]

Entardecer em Budapeste

As fotografias do húngaro Márk Pozsonyi encantam quem ama a mistura de detalhes urbanos e paisagens naturais, algo que a sua cidade, Budapeste, na Hungria, proporciona à exaustão.

A metrópole é dividida em duas partes por um grande rio, o Danúbio, que costuma proporcionar bonitos horizontes tanto para fotógrafos quanto para amadores e suas selfies. As montanhas distantes e as construções históricas do período imperial, enfim, permitem contrastes de cores e perspectivas mesmo em dias nublados – o que é comum na Hungria.

Apesar do seu trabalho, Márk tem apenas pouco mais de dois mil seguidores de diversas partes do mundo, que, inclusive, acessam a conta para sonhar com a capital húngara, caso da brasileira Andressa Caral.

“Comecei a segui-lo durante uma viagem para a Europa em que, durante as paradas nos destinos, procurava fotógrafos no Instagram que retratassem os lugares que viviam. Depois de andar alguns dias por Budapeste, percebi que ele enxerga com excelência o espírito da cidade”, conta.

[tab:Wong Maye-E (@w0ngmayee) – Cingapura]

Norte-coreanos no transporte público em Pyongyang

Ao contrário dos outros membros desta lista, a fotógrafa Wong Maye-E, de Cingapura, da agência norte-americana Associated Press, é uma das profissionais mais respeitadas da área na região asiática. Suas imagens já rodaram o mundo por diversos jornais importantes, como o francês “Le Monde” e o americano “New York Times”, muito por sua circulação na Coreia do Norte, onde atua desde 2014. Antes, ela já tinha feito coberturas nas Filipinas e na Tailândia.

Assim, Wong é relativamente “famosa” no Instagram: seu perfil tem pouco menos de 38 mil seguidores, apesar dos poucos likes que recebe nos posts. No ano passado, ela organizou uma exposição em Cingapura para compartilhar algumas das principais fotografias clicadas em Pyongyang.

Sua conta é importante porque, ao contrário também dos outros fotógrafos, Wong tem acesso a um dos países mais fechados do mundo, o que permite que, além da exclusividade das suas fotografias, elas possam ser uma visão mais ocidental do que acontece dentro do regime norte-coreano. Se destacam no seu perfil imagens do cotidiano da capital, como pessoas indo trabalhar ou tendo momentos de lazer aos domingos.

Por Vinícius Mendes