Baccarelli 20 anos: Aline Alcântara, conexão suíça

Em comemoração aos 20 anos do Instituto Baccarelli, organização sem fins lucrativos, o Quem Inova mostra a história 20 alunos e ex-alunos. A personagem de hoje é Aline Alcântara, que tocou trombonista na Orquestra Sinfônica Heliópolis e hoje mora na Suíça, onde toca como convidada em conjuntos como as orquestras de câmara de Freibourg e Lausanne.

Aline conversa por telefone desde Freibourg, na Suíça. É lá que ela vive hoje com o marido Sebastian e a pequena Helô, de 1 ano e nove meses. E onde tem desenvolvido seu trabalho como trombonista. Tem um grupo próprio, um quinteto de metais. Toca como convidada em conjuntos como as orquestras de câmara de Freibourg e Lausanne. E e em janeiro começa a dar aulas para crianças em um centro comunitário. “Foi aqui que construí minha rotina, mas não descartamos poder voltar ao Brasil, nem que seja por um tempo, para poder trabalhar e compartilhar o que aprendemos”.

 

Aline nasceu em Pirassununga, interior de São Paulo. O pai era trombonista, sargento músico da aeronáutica. Com 15 anos, ela entrou para a Banda Marcial de São Carlos. Era uma brincadeira, um hobby. “Mas logo ficou sério”, ela lembra. “Eu tinha facilidade e comecei a estudar muito, fui avançando e, na hora de fazer o vestibular, resolvi cursar música”. Faltava base teórica, mas após um ‘intensivão’ com um maestro da banda, ela entrou na USP em Ribeirão Preto. Isso foi em 2007. E, dois anos depois, ela conseguiu a transferência para o campus de São Paulo da universidade.

Fazia apenas um mês que ela havia se mudado para a capital quando fez a prova e foi aprovada na Orquestra Sinfônica Heliópolis. “Foi uma mudança incrível, ensaios de terça a sexta-feira, com o maestro Roberto Tibiricá e mais tarde com Isaac Karabtchevsky. Eu tomava até chá de erva cidreira porque ficava nervosa, eu sonhava com ele”, ela lembra, rindo. “A exigência era muito grande mas hoje eu vejo o como isso foi importante. A rotina de trabalho, as provas de reavaliação, tudo isso me preparou para a realidade que eu encontrei quando me mudei para a Suíça”, conta.

A mudança aconteceu há quatro anos. Foi um processo. Primeiro, Aline teve as primeiras experiências no exterior ao lado da orquestra, em 2010, na turnê europeia do grupo, e em um festival na Alemanha, onde tocou como solista. Depois, conheceu um professor francês em um curso em Piracicaba. “Ele gostou do meu trabalho e me propôs ir para a Europa estudar. Ele dava aulas na França e na Suíça. Como eu queria fazer um mestrado, a Suíça foi a melhor opção. Então eu vim”.

A viagem exigiu enorme esforço. “A primeira etapa foi me inscrever. Em seguida, ir para fazer a prova. Eu não tinha como comprar a passagem, um amigo me emprestou o cartão de crédito dele. Mas fui e passei. Quando anunciaram meu nome, eu nem entendi, era tudo em francês! Até para falar meu nome tinha um sotaque difícil de entender”. Era necessário, então, juntar dinheiro para a viagem, pois não havia bolsas disponíveis. “Eu vendi o que pude, contei com a ajuda de patrocinadores do instituto, da Katri Lehto, que me deu uma grande força. E vim. Cheguei aqui com dinheiro mal suficiente para pagar meu primeiro ano de estadia”.

E como foi a chegada? Nervosismo? “Olha, é parte da minha personalidade nunca pensar no pior. Sempre fui levando as coisas com coragem. E foi o que aconteceu desta vez também. No final, foi tudo dando certo. Depois de um ano, fiz provas e entrei como musicista substituta em duas orquestras daqui. Casei, tive minha filha, fui construindo minha vida. Mas o Brasil fica na memória. Tenho saudade do clima e acho que passar um tempo aí vai ser bom, poder tocar, ensinar, e o Sebastian, que é violoncelista, também tem muito a contribuir. Ainda não sei quando, mas vai acontecer”.

Por João Luiz Sampaio