Baccarelli 20 anos: Denise Alves, capacidade de acreditar

Em comemoração aos 20 anos do Instituto Baccarelli, organização sem fins lucrativos, o Quem Inova mostra a história 20 alunos e ex-alunos. A personagem de hoje é Denise Alves, uma das primeiras alunos do instituto e que, no ano que vem, será coordenadora de grupo no Baccarelli.

Denise Alves estava com 14 anos quando um incêndio consumiu boa parte de Heliópolis. Ela estudava na época no Gonzaguinha, uma das principais escolas da região. “Foi uma tristeza enorme”, ela relembra. “As pessoas que ficaram sem teto buscaram abrigo lá, então todos nós nos mobilizamos para ajudar. Mas era um momento de dor, dor por enxergarmos a realidade que estava à nossa volta”.

Foram as imagens do incêndio na televisão que levaram o maestro Silvio Baccarelli a começar a dar aulas para jovens de Heliópolis. E Denise integrou a primeira turma, que se reunia para aulas e ensaios na casa do maestro, na Vila Mariana. “Eles foram falar da ideia na escola, lembro da professora até achando meio absurdo. Eles falavam com os melhores alunos e também com os mais problemáticos”. Denise pertencia ao primeiro grupo. “Eu fui, achando que ia aprender bateria ou guitarra”, conta. O irmão, no entanto, sugeriu a ela o violoncelo. “Mas o som do violino falou mais alto”.

O crescimento de Denise na música acompanhou o próprio desenvolvimento do instituto. “Fomos todos aprendendo juntos. E aos poucos a música foi crescendo dentro de mim. Ao mesmo tempo, foi surgindo uma amizade grande entre aquela turma”. Na hora de entrar na universidade, apesar da “breve resistência” da família, Denise não pensou duas vezes. “Tudo o que de melhor havia acontecido para mim foi na música, foi no instituto”. Ela estudou na Faculdade Cantareira, onde realizou um trabalho de conclusão do curso sobre o impacto do Instituto Baccarelli na vida daquela primeira turma da qual fez parte.

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Uma das conclusões a que Denise chegou foi a de que quem seguiu na música, estudou mais. Mas a experiência pessoal traz de volta outras lembranças, que ajudam a entender o impacto que a música pode ter na vida das pessoas. “Logo que o instituto começou, uma emissora de televisão veio até aqui fazer uma matéria. Na época, eu tinha um tênis só, e ele estava furado. E não esqueço do câmera mostrando insistentemente o furo. Ali eu me dei conta de que eu era mais do que simplesmente um tênis furado. E que não queria ser exposta pela minha condição social. É nesse sentido que o trabalho do instituto e a música foram importantes. É claro que, no que diz respeito à área musical, é preciso investir em excelência. Mas há outro lado. Em fevereiro de 2017 eu assumo minhas primeiras turmas de alunos aqui. E eu quero dar a eles aquilo que eu também tive: a capacidade de acreditar em mim mesma e não deixar que me reduzam a fórmulas e preconceitos”.

Por João Luiz Sampaio