Baccarelli 20 anos: Thiago Correia, música e respeito

Em comemoração aos 20 anos do Instituto Baccarelli, organização sem fins lucrativos, o Quem Inova mostra a história 20 alunos e ex-alunos. O personagem de hoje é Thiago Correia, que toca contrabaixo na Sinfônica Heliópolis e é professor no instituto.

A “Sinfonia Fantástica”, de Berlioz, e o “Concerto para violino”, de Beethoven. Na regência, Zubin Mehta; como solista, o violinista Julian Rachlin. Tal combinação seria suficiente para marcar qualquer um que estivesse presente naquele concerto. Mas Thiago não estava apenas na Sala São Paulo; estava no palco e, integrando o naipe de contrabaixo, se deu conta: “Ali entendi o que é ser músico. Eu olhei para eles e entendi que uma trajetória artística se faz de estudo, de acúmulo de experiências, da procura pelo conhecimento”.

Isso foi em 2012. Thiago estava na Orquestra Sinfônica Heliópolis há apenas um mês e meio. E vivia profundas transformações. Entendê-las significa voltar ao início de sua trajetória. Ele nasceu em Recife. A adolescência foi acompanhada de música, que ele logo começou a fazer, tocando violão, guitarra, integrando uma banda de heavy metal. Na hora de prestar vestibular, esse parecia o caminho, mas ele sentia que faltava embasamento. Foi para o conservatório. E, três anos depois, em 2007, entrou na faculdade.

O contrabaixo apareceu em algum momento entre uma coisa e outra. “Eu gostava de jazz, música popular e de orquestra. Naquele período da minha vida, havia muita pressão da família para conseguir um emprego, prestar um concurso. Então eu me coloquei uma meta: se não der certo no contrabaixo, eu ia desistir da música e procurar outro caminho”, ele conta.

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Na faculdade, participou da criação de pequenas orquestras. Na falta de um professor adequado, viajava para João Pessoa para ter aulas. “Mas não tinha regularidade e comecei a sentir falta disso, sentia dor tocando. Então resolvi vir para São Paulo”. A chegada não foi fácil, era preciso, antes de mais nada, encontrar um lugar para ficar. Mas os desafios foram compensados pela mudança na relação com o instrumento. “Quando cheguei em Heliópolis e entrei no Instituto Baccarelli, mudou tudo, a técnica e a percepção do que é fazer música”.

Uma percepção que ele hoje passa a seus alunos do instituto. “Você costuma olhar o mundo de acordo com as suas perspectivas. Mas isso faz com que a gente nem sempre se dê conta de quem está à sua volta, dos desafios que essas pessoas enfrentam, seus traumas, alegrias. A música, quando é vista além da pura técnica, te permite compreender o outro e, com isso, a força dos sentimentos, os seus inclusive”, ele explica.

“Ao chegar aqui, eu me tornei muito mais humilde, entendendo que música não é vaidade, não é querer ser melhor do que o outro. Em Recife, eu tinha colegas que não tinham roupas, não tinham o que comer. Entendo hoje que você aprende muito ouvindo as pessoas, não só colegas músicos, mas os funcionários, gente que luta para estar onde está. Com meus alunos, me preocupo antes de mais nada em mostrar para eles que é possível, que eles são capazes de grandes conquistas. E para isso é importante que eles entendam que a música nos ensina também o que é o respeito, ajuda a entender onde estão os limites entre o meu desejo e o dos outros”.

Por João Luiz Sampaio