Uma visita a Kliptown, na África do Sul

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo” Nelson Mandela

Os professores esperam ansiosamente seu período de merecidas férias para descansar, colocar tarefas cotidianas em dia, viajar e muitas vezes se desligar um pouco da sala de aula e educação. Inicialmente este era meu plano para o mês de julho, no entanto a minha visita à África do Sul trouxe os ensinamentos de seu filho mais conhecido, Nelson Mandela, estarem presentes a todo o momento e me apresentou muito mais do que eu poderia esperar e me fez enxergar que educadores estão sempre ligados em educação, não importa o período do ano e tampouco as condições para exercício da profissão.

Em Kliptown, bairro com população de 44 mil habitantes, a pobreza era gritante

A África do Sul é um país no extremo sul do continente Africano, conta com uma população de aproximadamente 55 milhões de pessoas e a segunda maior economia da região. O país também é marcado pela sua história recente do Apartheid e a discriminação contra negros, mulatos e indianos. Foi neste momento que as Townships (áreas urbanas subdesenvolvidas reservadas a este grupo) cresceram e se destacaram na luta contra o racismo, como foi o caso de Soweto.

Em visita ao Soweto,  presenciei os contrastes existentes e também o orgulho da população em fazer parte daquela área. Foi quando o meu guia turístico, sabendo da minha profissão, ofereceu para apresentar um projeto educacional na área de Kliptown. Não hesitei em aceitar e nos deslocamos para a visita.

Kliptown é um bairro com população de 44 mil habitantes, que são privados de direitos humanos básicos como escolas, clínicas de saúde, eletricidade e saneamento básico. Aproximadamente 70% desta população é desempregada, 25% tem o vírus do HIV/AIDS e uma alta taxa de gravidez na adolescência. Dado este cenário, é comum que muitos jovens e crianças se envolvam com drogas e criminalidade.

Banheiros químicos são compartilhados pelos moradores de Kliptown

Ao chegar no local, a pobreza era gritante. Ruas de terra batida, moradias feitas com latão, animais e pessoas circulando em meio ao lixo jogado a céu aberto, um odor desagradável e por incrível que pareça moradores simpáticos, envolvidos nos seus afazeres com orgulho, auxiliando uns aos outros, demonstrando um senso de pertencimento a comunidade raramente visto em  outros lugares.

No caminho até o projeto Kliptown Youth Program (KYP), uma série de banheiros químicos que são compartilhados pelos moradores da área, tendo em vista que não há sistema de esgoto nem saneamento básico e uma cena que me chamou atenção foi a presença de uma única torneira em todo o bairro, chamada pelos idealizadores do projeto de Facebook de Kliptown,  pois é o ponto de encontro da comunidade.

O programa foi fundado em 2007 por membros da comunidade local

Fui recebido por um dos fundadores do projeto, Monwabisi Baleni coordenador do programa de High School, que me guiou pelas instalações me explicando passo a passo do que é feito para seguir o lema do programa “Da pobreza para a oportunidade”.  O programa foi fundado em 2007 por membros da comunidade de Kliptown que buscavam fazer a diferença e modificar esse ciclo de miséria.

Atualmente, o projeto oferece tutorias, aprendizado online, programa alimentar, orientação vocacional, atendimentos psicossociais, auxílio uniforme, fundo universitário e atividades relacionadas a arte e cultura que já fizeram a diferença na vida de mais de 500 jovens, muitos dos quais se formaram em cursos universitários e conseguiram empregos formais.

Como reconhecimento deste esforço, KYP recebeu diversos prêmios, sendo o mais importante deles o CNN HEROES. Presenciei dezenas de jovens tendo tutorias de informática e aulas de reforço de matemática. Senti-me inspirado por ver a transformação acontecendo através da educação em um local com tantas dificuldades e falta de recursos, e tive a certeza de que em Kliptown a frase de Mandela utilizada na abertura deste artigo tem sido colocada em prática.

Saiba mais sobre o programa: www.kliptownyouthprogram.org.za,

Por Daniel Barboza, professor de humanidades da Escola Concept de Ribeirão Preto (SP)