Cientistas querem tornar laranja geneticamente resistente à praga

Um grupo de pesquisadores do INCT Citros (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Genômica para o Melhoramento de Citros) pretende transferir para a laranja genes de tangerinas e de outros citros relacionados à resistência a doenças.

De acordo com Marcos Antônio Machado, diretor do Instituto Agronômico, onde está sediado o INCT-Citros, o grupo já conseguiu caracterizar vários genes candidatos à resistência a doenças de tangerinas e outros citros e agora pretendem transferi-los para a laranja a fim de tentar desenvolver uma planta que seja modificada, mas não transgênica, por meio de técnicas como a cisgenia [transferência de genes de espécies de um mesmo grupo de organismos que se cruzam na natureza].

Pesquisadores do INCT Citros pretendem transferir para laranja genes de tangerinas e outros citros relacionados à tolerância a doenças

De acordo com o pesquisador, a identificação de genes-alvo para aumentar a resistência da laranja a pragas agrícolas foi possível por meio do sequenciamento do genoma de referência de citros.

Concluído em 2014 por um consórcio internacional de pesquisadores dos Estados Unidos, França, Espanha, Itália e Brasil, o projeto foi iniciado em 2003, quatro anos após o sequenciamento do genoma da Xylella fastidiosa – bactéria causadora da doença clorose variegada dos citros ou “amarelinho”, que ataca a laranja.

A fim de superar o desafio de sequenciar o genoma da laranja doce (Citrus sinensis L. Osb) – que é extremamente complexo por ser altamente heterozigoto (os alelos de um ou mais genes são diferentes) e com alta frequência de sequências repetidas, o que dificulta sua montagem – os pesquisadores do consórcio optaram por sequenciar um genoma menos complexo e que pudesse ser usado como genoma de referência, ao qual fossem alinhados todos os genomas de citros.

O escolhido foi o genoma da clementina –uma fruta resultante do cruzamento da laranja com a tangerina, que é a base da citricultura espanhola e é haploide (tem metade da carga genética original).

Concluído o sequenciamento do genoma da clementina, os pesquisadores sequenciaram o genoma de mais nove espécies de citros candidatas a parentes da laranja doce para ampliar a base de comparação dentro do grupo e verificar como uma espécie originou outra ao longo da evolução.

Dentre as espécies de citros analisadas foram incluídas a laranja doce Pineapple –uma variedade altamente produtiva, comparada à laranja Pera e extensivamente utilizada na Flórida (Estados Unidos), de onde é originária–, a clementina diploide, a tangerina Ponkan (C. reticulata), mexerica do Rio (C. deliciosa tenore), tangor W. Murcott, laranja azeda Seville, laranja doce Washington Navel, toranja Chandler e toranja Siamesa de baixa acidez.

As análises da comparação dos genomas revelaram que a laranja doce (Citrus sinensis L. Osb) –que é a principal espécie de citros no mundo– não é uma espécie pura. Seus progenitores são, preponderantemente, toranja e tangerina Ponkan, além de outra espécie desconhecida de citro.

Com informações da Agência Fapesp