Instituto leva educação de base a crianças ribeirinhas do Pantanal

O Pantanal é um dos lugares que mais povoam o imaginário brasileiro. Conhecido como um dos biomas mais preservados do planeta, muito se fala dos rios e da fauna de lá, mas pouco da população ribeirinha que habita esse extremo Oeste do Brasil, onde o Estado do Mato Grosso do Sul faz fronteira com a Bolívia.

Dentro do contexto socioambiental, chama a atenção a vida das famílias que povoam essa região. Remanescentes de fazendas, a maioria são peões desempregados com filhos pequenos. Foi a partir desse olhar mais detalhado que surgiu o Acaia Pantanal, um instituto criado para atender uma das principais demandas da população local: educação.

Instalada em um antigo hotel usado por pescadores localizado na parte chamada de Paraguai-Mirim, em uma área classificada como de preservação extrema, a organização atende cerca de 60 crianças do 1º ao 5º ano, de todas as idades. “Aliamos desenvolvimento humano e social com preservação”, explica Sylvia Helena Bourroul, diretora do Instituto. “Escolhemos trabalhar com o 1º ciclo, a fase mais importante para a formação do pensamento lógico e assim ajudar que essas crianças tenham uma boa base e possam ter a opção de construir seu futuro”.

A escola funciona como um internato, onde as crianças e jovens chegam na segunda-feira e voltam para casa no sábado, permanecem durante dois meses nesse ritmo e depois passam 15 dias com os pais. Além da grade curricular convencional, é aplicado a metodologia de projetos o que permite que na parte da tarde elas tenham aulas de arte, cultivo de horta, teatro entre outras modalidades.

“Estamos instrumentalizando essas pessoas para que possam viver em um outro cenário, porque as coisas estão mudando e o mundo é mais amplo que o rio”, diz Bourroul.

A diretora explica que muitas das 44 famílias que vivem ali de forma precária, num raio de 150 km, vieram porque não se adaptaram na cidade. “Ou seja, são muitos diferentes de uma comunidade tradicional. Formaram uma favela na beira do rio e vivem no nível de sobrevivência sob problemas recorrentes de alcoolismo,violência doméstica, gravidez precoce, entre outros”.

Dentro desse contexto, a iniciativa do Acaia Pantanal funciona como a única oportunidade que essas crianças têm de não serem obrigadas a seguir o  mesmo caminho dos pais, que em sua maioria vivem da pesca de isca. “Já encaminhamos 21 alunos que estão dando continuidade ao ensino na Fundação Bradesco, em Corumbá”, conta.

Apesar da satisfação em ver os efeitos do trabalho, a gestora administrativa Dilma Castro Costa, 52 anos, afirma que manter o instituto é uma operação de guerra. “Por ser um local isolado, temos que ter uma estrutura independente, como, por exemplo, quatro geradores. O transporte também pelo rio é muito caro, para trazer alimentação e materiais. Mas o mais difícil é manter equipe, recursos humanos, uma equipe integrada que acredite no projeto já que viver aqui não é fácil”.

Dos cinco professores atuais, três são de São Paulo. Vieram pela experiência de trabalhar com um projeto social onde pudessem presenciar os resultados. “A diferença entre as culturas é bem forte. Aqui temos uma grande relação de ensino e aprendizado mútuo, porque nós não conhecemos as coisas daqui e essa troca é muito valorizada por eles”, afirma Ana Luiza Borges, 23 anos. “Também é muito gratificante perceber que por meio das aulas de teatro eles passam a se expressar melhor. No começo chegam falando baixo, sem olhar nos olhos e depois de um tempo já são capazes de fazerem perguntas na sala de aula, conversar”.

Para a assistente social Rosilena da Silva Cruz que trabalha na região, o Acaia tem contribuído de forma efetiva para que as famílias se conscientizem de que há possibilidade de um futuro diferente para o seus filhos. “Essa não é uma ação assistencialista. Aqui as crianças se apropriam do conhecimento e assim se tornam mais seguras para olhar através janelas do mundo”, afirma.