Projeto da Vila Sésamo beneficia 2.500 crianças em favela do Rio

Quando se ouve falar do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, as primeiras lembranças podem vir relacionadas a notícias sobre ação policial, atuação do tráfico e outras mazelas comuns as periferias das grandes cidades. Mas e as crianças que vivem por lá? O que elas fazem? Pelo que elas passam?

Um estudo financiado pela organização holandesa Bernard Van Leer Foundation mostrou que o grande dilema dessas crianças não era exatamente a violência social do entorno, mas as situações de opressão que passavam dentro da própria casa. A partir desse contexto, em parceria com a ONG Sesame Workshop, nasceu o projeto Vivendo Juntos, uma ação que trabalha para que crianças de 3 a 6 anos desenvolvam habilidades e competências em gerir emoções e lidar com conflitos.

“Parece óbvio mas não é óbvio para uma uma criança de 3 anos identificar que ela esta com raiva e não que está triste. Na primeira infância existe essa etapa de reconhecimento das emoções, depois, a partir dos 5 anos, aprendem a administrá-las, saber quando e como expressá-las”, explica José Eisenberg, um dos coordenadores locais da iniciativa.

O projeto foi personificado pelo Vila Sésamo, o programa infantil que marcou a geração de pequenos nos anos 70 com episódios cheios de humor e noções educativas ao mesmo tempo que ajudavam na alfabetização. Criado pela Sesame Workshop, o Sesame Street, versão original norte-americana do programa, segue diretrizes educacionais globais e promove diversas atividades de engajamento cultural. No Brasil, além do Vivendo Juntos, trabalham também com educação financeira em nove cidades.

“Voltamos a atuar no país desde 2014, com gravações de novas temporadas para a TV que serão exibidas no canal Cultura e TV Brasil,  mas também com forte presença em novas plataformas digitais como Play Kids, Youtube e Netflix”, conta João Amorim, diretor de conteúdo.

No Vivendo Juntos os personagens que participaram diretamente com as crianças foram os amigos Bel e Elmo: estamparam vários materiais de apoio criados para os professores da rede pública de ensino, como livros e jogos educativos, e também estiveram presentes em vídeos, apresentações culturais e eventos realizados dentro da comunidade.

“Nos 18 meses de atuação, trabalhamos com a capacitação de professores para que pudessem utilizar esses materiais dentro da sala de aula, com uma meta de chegar a 2.500 alunos,  abordando os temas propostos e também realizamos três eventos presenciais dentro das comunidades que integram o Complexo”, diz Eisenberg.

Para poder atuar em um território como esse, composto por 16 favelas, onde residem mais de 140 mil pessoas, os organizadores contaram com a ajuda da REDEs (Redes de Desenvolvimento da Maré) e do Observatório de Favelas, organizações da sociedade civil que atuam no local.

“Para nós que não temos muita experiência com a gurizada, o principal desafio foi mobilizar o público para os eventos e construir atividades que pudessem ir além do momento recreativo, como, por exemplo, uma oficina de brinquedos com materiais de baixo custo e reciclável”, explica Rogério Azevedo, do Observatório.

“Em um espaço cravado e marcado pela dor, depois de um série de problemas com a questão do tráfico e confrontos com a polícia, onde uma das nossas parceiras nossas, a REDEs, teve sua biblioteca fuzilada mesmo que o prédio não esteja localizado em uma área de tiroteio, é muito gratificante poder reunir a criançada num sábado a tarde e poder sentir de forma mais imediata que estamos conseguindo intervir positivamente com a população.”

Marielle Franco, uma das coordenadoras do projeto, foi moradora do Complexo e a responsável por incluir elementos de identificação com o contexto local, como, por exemplo, a questão da negritude e da inclusão nos materiais didáticos, o debate do posto de saúde e da escola nos jogos de tabuleiros e também coordenar a realização dos eventos e distribuir para os profissionais que residem na Maré as tarefas de produção como som, fotografia, entre outras.

“Mesmo que a Maré tenha ficado sob intervenção do exército por mais de um ano, o tráfico não acabou. Temos duas facções que atuam aqui dentro e isso exigiu que realizássemos os eventos onde todas as crianças pudessem ter acesso”, conta Franco.