Dupla utiliza linguagem do circo para conscientização socioambiental

De repórteres a palhaços. No sentido literal da palavra. Essa é a história de Naélia Forato e Romulo Osthues, dois amigos que trocaram as horas na frente do computador por uma vida que fosse de encontro aos desejos mais íntimos de cada um e ao mesmo tempo levasse um significado às pessoas.

Depois de anos dentro de uma redação escrevendo matérias sobre  decoração, consumo, arquitetura e afins, os dois ao mesmo tempo resolveram utilizar as frustrações do dia a dia numa redescoberta sobre si mesmo por meio de uma formação de palhaço.

 

“Entramos no curso do Giba Rizzo, do palhaço Osório, e isso foi transformador. Nos fez tomar decisões muito íntimas. Para mim, o palhaço é o anti-herói mais herói que tive. Por isso acredito tanto na força de um nariz vermelho¨, conta Forato.

Após cobrirem um festival de circo na Argentina, em 2012, quando até então mesclavam as duas atividades, a dupla fundou “O Quintal de Fulana e Melão“,  um misto de plataforma de divulgação cultural circense com uma companhia de palhaçaria.

“Palhaceamos por aí, provocando as pessoas ludicamente a refletir sobre seus contextos socioambientais de um jeito mais cuidadoso. De certa forma, ainda que não se limite a este tema, nossas apresentações sempre trazem um quê de ecologia. As brincadeiras, os não-espetáculos, as improvisações que fazemos têm, por essência, o discurso socioambiental, pautado também pela relação com os direitos humanos”, conta Osthues.

Em um dos seus “não-espetáculos”, por exemplo, os dois brincam com garrafas PETs em cena e as transformam em diversos objetos fantasiosos ou práticos para mostrar as possibilidades da reciclagem.

“Nossa missão é complexamente simples: brincar e levar na brincadeira temas relevantes socioambientalmente, propondo a quem compartilha do nosso Quintal, por um instante que seja, que se transforme a si mesmo e transforme seu meio em prol da coletividade”, afirmam.

Enquanto estão abertos a receber propostas, que ajudem, inclusive, a pagar as contas e ao mesmo tempo não vão contra temas socioambientais ou dos direitos humanos, cada um segue também sua individualidade.

“Curso o mestrado em divulgação científica e cultural do Labjor/Unicamp onde  pesquiso a comunicação do palhaço em diferentes contextos de sua atuação. Entendo, metaforicamente, o nariz vermelho como uma mídia, um canal de comunicação de dupla via”, conta Osthues.

Já Forato, participa de iniciativas ligadas a permacultura e até mesmo já auxiliou a  Funai (Fundação Nacional do Índio) em projetos especiais. “Trabalhar com a terra e observá-la me ensinaram –e ensinam!– tanto sobre a simplicidade. São coisas que despertam em mim humildade, um certo vazio, perder a razão das coisas, presença absoluta. A agricultura é sempre reveladora, desconhecida, ilimitada e, por isso, tão divertida pra mim. Como a palhaçaria.”